5 de novembro de 2007

Qula É a Nossa Cara?

Tenho a intenção de relatar nas linhas a seguir as minhas impressões sobre a peça Qual [é a Nossa Cara, em cartaz até dia 30 de setembro na Casa de Cultura da Maré, de terça a domingo, às 19 horas, com entrada franca.


A peça conta a história da Maré, mais especificamente da comunidade Nova Holanda, onde basicamente a história se passa. Digo basicamente porque a peça fala de fatos ocorridos no bairro e faz um link com outros acontecimentos, alguns mundiais.
Antes de começar de fato a narrar minhas impressões queria falar de cada um dos atores que compõem o grupo. Todos são moradores da Maré e alguns eu conheço já há algum tempo. Todos têm um envolvimento com a arte e de alguma forma são pessoas que atuam na construção da história da Maré.

Priscila e Geandra
O primeiro contato que tive com elas foi no grupo Rede Maré Jovem, movimento de jovens da comunidade da Maré que se propõe a pensar e construir políticas públicas para a juventude de forma abrangente e articulada e encaminhar ações que possam aproximar os jovens em torno de atividades culturais, educativas e promotoras de cidadania.
Mas nossas amizades se consolidaram quando entrei no curso pré-vestibular no Morro do Timbáu em 2006. Ambas eram muito engajadas e atuantes nas questões coletivas. Além do curso tive contato com elas no Bloco Se Benze que Dá e em vários outros momentos da história recente da Maré.

Davi e Davi
Digo Davi e Davi por que são dois. Um eu conheci em um curso de fotografia no Observatório de Favelas, o Davi Marcos. O outro, Davi Santana, no Curso Pré-Vestibular da Maré (CPVM) da Nova Holanda, curso preparatório para o vestibular oferecido pela ONG CEASM para toda a Maré, com duas sedes, uma no morro do Timbau e outra na Nova Holanda. O curso existe desde 1997 e foi através desse curso que a Maré elevou de 0,6% em 1990 para 1,85% em 2005 o número de pessoas da Maré nas universidades públicas e particulares do Rio de Janeiro.

Wallace e Jaqueline
Conheci os dois em um Encontro Nacional da Juventude Campo e Cidade na Florestan Fernandes (Escola do MST em São Paulo). Na ocasião a Companhia Marginal apresentou um pouco do trabalho que vinha desenvolvendo na comunidade da Maré. Posteriormente os encontrei no desfile do Bloco Se Benze que Dá de 2006. O Se Benze que Dá é um grupo carnavalesco que através da música tenta romper com as barreiras visíveis e não visíveis existentes no bairro da Maré e todo os anos realiza dois desfile pela comunidade.

Diogo Vitor
Conheci no mesmo curso de fotografia que conheci o Davi Marcos, lembro que ele tinha muito talento para fotografar, ele imprimia uma composição muito particular nas suas fotografias. Mas saiu do curso para se dedicar à Cia. Marginal.

Tatiane
A Tatiane é a única que não conheço como os demais. Mas sempre a vejo pela comunidade.
Falo de todos esses grupos: CPVM, Bloco Se benze que Dá, e outros e você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com a peça de teatro. Eu respondo tudo. Pois como bem diz o nome da peça “Qual é a Nossa Cara?”. A Cara da Maré é tudo isso e não é à toa que todos esses grupos que falei de uma forma ou de outra são mencionados no espetáculo. No último domingo fui mais uma vez ver a peça,  Essa é a quarta vez que vejo, das quatro vezes, três eu estava fotografando e entre um clique e outro eu parava para ver as cenas e tentar entender qual era a mensagem que o grupo queria passar. As mensagens são as mais diversas. Domingo fui especificamente para assistir, pois acho que nas vezes em que estive fotografando algumas cenas eu não consegui entender.

A peça conta a história da comunidade Nova Holanda e de alguns moradores da comunidade, com a história saindo da comunidade e avançando na história da Maré. Afinal de conta todas, as 17 comunidades da Maré comungam uma história muito particular.

A peça fala dos abusos ocorridos na Maré. Abusos da polícia, abusos do tráfico, abusos cometidos com as crianças e até abusos dos próprios moradores com outros moradores. Abusos do tipo: alguém liga o som a toda altura não respeitando o vizinho. Fala ainda dos preconceitos vividos na comunidade:s exuais, religiosos, sociais. etc. Em alguns momentos fala simplesmente do cotidiano da comunidade e é aí que os pontos mais notáveis da obra acontecem, pois são nesses momentos que a grande qualidade e o diferencial do grupo aparece. Eles mostram esse cotidiano sem nenhum estereótipo, e o melhor, sem nenhuma apelação. A cena que mais me chamou a atenção: quando os atores dialogam com as pessoas da platéia. A pergunta é: você é ativo ou passivo? Essa cena não tem só o objetivo de falar do ativo e passivo na forma pejorativa que conhecemos, relacionada à sexualidade. Nessas cenas eles estão falando da nossa atividade ou passividades enquanto indivíduos no nosso dia-a-dia. O grupo mostra o quanto ao longo de nossas vidas somos ativos e passivos ao mesmo tempo.

Por fim, uma das melhores cenas do espetáculo é quando o grupo fala das diversas formas de opressões que os jovens moradores da Maré sofrem, sejam elas pelos pais, pela violência, pelo sistema econômico, pela polícia e até pelas ONGs que aqui atuam.

Sem nenhum exagero, acho que a peça é um marco na história da Maré é também um marco na históia do Grupo. Tudo isso que relatei não é nada criado ou retirado da minha imaginação, está tudo no enredo da peça.

Qual a Nossa Cara? – Cia. MarginalQuinta a domingo19 horas Casa de Cultura da Maré – Av. Guilherme Maxwel, 26 – Maré (Vindo do Centro, virar à direita na passarela 7 da Avenida Brasil, esquina com a Escola Bahia)Entrada Franca
Concepção e Direção - Isabela Peroni

Elenco Cia. Marginal, em ordem alfabética
Davi Marcos
Davi Santana
Diogo Vitor
Geandra Nobre
Jaqueline Andrada
Priscila Andrade
Tatiane Charlene

1 comentários:

amigos, amados, amores... muitos sucessos para todos vcs q moram no meu coração. Tenho uma profunda admiração por cada um de vcs. Saibam q todos correspondem a uma parcela do meu coração. Vcs são fundamentais e sem a presença de um só em mnha vida não sobreviverei. Sou seu Fan...
Agora podem me dar os R$2,00 que me prometeram para que eu fizesse esta bajulação. (brincadeirinha hehehehehe)