No dia 13 de fevereiro, viajamos, eu e Ratão Diniz, para a inauguração da mostra fotográfica em Brasília que reuniu as duas últimas exposições da agência Imagens do Povo. A mostra é a junção das exposições "Esporte na favela", realizada no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), e "Olhar Cúmplice: fotografias do Parapan", que aconteceu no Centro Cultural da Caixa Econômica, ambas no Rio de Janeiro, em 2007.
Primeiro dia
Após uma hora e vinte minutos de vôo, pousamos em Brasília. Confesso que não me sinto muito bem quando ando de avião, Ratão muito menos. Pegamos um táxi e nos dirigimos ao hotel onde ficaríamos. Aproveitamos para pegar algumas informações sobre a cidade com o taxista. Ele nos disse que em Brasília não tem nada de interessante, mas nos recomendou uma visita à torre de TV. Desse ponto, segundo ele, dava para se ter uma boa visão do plano piloto e para ver o desenho do avião que forma a cidade. Esta dica nos foi confirmada por Kita Pedrosa (Coordenadora da Agencia Imagens do Povo) que já estava em Brasília desde o dia 11, juntamente com João Roberto Ripper e Davi Marcos – outro de nossos fotógrafos.
Após um breve almoço, munidos de nossas câmeras, fomos conferir a tal antena de TV. Enquanto andávamos até a antena, Ratão, Davi e eu íamos conversando e nos divertindo com as coisas e os fatos de uma cidade desconhecida. A vista de cima da antena até que é bonita, mas não era exatamente o que eu imaginava. Por alguns minutos fiquei tentando ver o tal do avião, e confesso que não consegui ver avião nenhum. Então resolvi perguntar a um senhor que ali estava. Ele tinha pendurado em seu pescoço uma câmera fotográfica analógica que não consegui identificar a marca nem o modelo. Além de tentar me explicar onde ficavam as asas do avião, o senhor também me disse que era fotógrafo há muitos anos.
À noite nos dirigimos para a abertura da exposição. Ao chegarmos ao Palácio do Planalto nos identificamos na portaria e entramos sem muito problema, já estávamos credenciados. É claro que a entrada no Palácio não é tão mole assim. Nesse mesmo dia, eu vi diversas pessoas serem barradas. Vi um rapaz que parecia ser entregador de uma loja tentar fazer seu trabalho, mas foi barrado por não estar autorizado a entrar.
Durante a abertura, reencontramos alguns velhos amigos que foram prestigiar o Imagens do Povo: Alison Sutton coordenadora de projetos da UNICEF, Flavio Pachalski jornalista, Silvia também jornalista e militante do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragem), entre outros. Além dos irmãos Stuckerts, Roberto Stuckert fotógrafo do jornal O Globo e Ricardo Stuckert fotógrafo oficial da Presidência da República.
Antes da nossa ida a Brasília, havia sido cogitada a possibilidade de nos encontrarmos com o presidente Lula. Mas essa possibilidade foi descartada antes mesmo da viagem, mas voltou à tona durante uma conversa com o Ricardo Stuckert, que nos contou sobre a turbulenta agenda do presidente naquele dia. Segundo ele, no dia seguinte a agenda do Lula seria menos corrida, e nos garantiu que veria uma possibilidade de nos encontramos com o presidente.
Ao sairmos da exposição fomos levados por nosso amigo Pachalski a um bar que mais parecia ser na cidade do Rio de Janeiro. Nas paredes, inúmeras fotos antigas do Rio. O bar era todo decorado com fotografias de Marc Ferrez.
Segundo dia
No dia seguinte fomos a uma reunião apresentar o projeto Imagens do Povo para a equipe da UNICEF. No começo do encontro, deixamos todos avisados que poderíamos ter que sair a qualquer momento para nos encontrarmos com o Lula. E foi o que aconteceu. Lá pelo meio da reunião a Alison Sutton nos interrompeu e disse que o presidente nos esperava ao meio dia. Tínhamos, portanto, quinze minutos para chegarmos ao Palácio do Planalto.
No Palácio, dez minutos atrasados, fomos até a portaria e com a ajuda de nosso amigo Pachalski, nos identificamos e nos credenciamos para subir ao andar onde estava o presidente. Pretendíamos presenteá-lo com três fotografias: uma do Davi, uma do Ratão e uma minha. No segundo andar fomos recebidos por Magno. Magno é o segundo fotógrafo de um total de três fotógrafos da presidência da república. O primeiro é Ricardo Stuckert.
Magno nos levou à sala de fotografia da presidência, onde fomos recebidos com café e água e de quebra conhecemos um pouco da rotina do Lula através de fotografias espalhadas por todas as partes da sala. Combinamos rapidamente quem iria iniciar a conversa com o Lula. Ripper foi escolhido por unanimidade, mas se recusou e disse que seria melhor que um de nós (Ratão, Davi ou eu) falasse. Decidimos que eu iniciaria a conversa e os demais completariam com o necessário.
Nesse momento descobri a importância da síntese. Aceitar a incumbência de iniciar a conversa com o presidente e ainda ter que resumir um projeto tão grandioso como é o Imagens do Povo, não é tarefa fácil. Comecei a treinar o que iria dizer. O nervosismo não era pelo cargo que o Lula ocupa e sim por ser o Lula, um cara que acompanho a história desde a minha infância. Eu iria falar com um conterrâneo nordestino, o cara em quem votei pela primeira vez por acreditar que ele seria o presidente que de fato faria mudanças nesse país. Por mais que ele não tenha atendido às minhas expectativas, assim como não atendeu as expectativas de milhões de brasileiros, ele ainda é o Lula, o homem que desde pequeno eu ouvia falar pelo rádio. O tal operário que desafiava a elite brasileira em nome dos direitos de centenas de trabalhadores do ABC Paulista. E esse é o motivo do meu apreço por ele.
Encontro com o Lula
Por fim, ele chegou. Era visível o nervosismo entre nós, principalmente Davi, Ratão e eu. Kita e Ripper estavam tranqüilos, ambos são jornalistas e já devem ter vivido situação semelhantes. Davi, Ratão e eu somos iniciantes e toda aquela espera nos causava aflição.
Quando ele se aproximou de nós, eu lhe dirigi a palavra:
– Boa tarde presidente.
– Boa tarde - respondeu ele.
Em seguida falei de onde éramos e o que estávamos fazendo ali. Quando contei da exposição, ele me perguntou onde estava sendo realizada. Falei que era ali mesmo, no saguão do Palácio. Ele então nos cumprimentou e ao receber as fotos pediu para que o Ricardo fizesse fotos dele com a gente. Por fim, ele veio até a mim, me abraçou, falou que nosso trabalho era muito bom e nos desejou sorte. Rapidamente, o corredor foi tomado por gente que queria fazer fotos com ele e também entregar presentes.
Nós pegamos as fotos que o Stuckert fez e fomos arrumar as malas. Era hora de deixar o planalto central e voltar para a Maré.
Acompanhe mais detalhes da nossa ida a Brasília em futuras postagens deste blog.
Francisco Valdean
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