Sobre uma envelhecida lona de caminhão e sob luzes cenográficas circulava poeira e fumaça. O cenário anunciava o tom da apresentação dos personagens anônimos confinados nos presídios cariocas, representados na peça “O, Lili” da Cia Marginal. Este foi o cenário inicial que vi no dia (1/6/2011), último dia de apresentação da temporada no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea), Rio de Janeiro.
A peça começa com detentas de um presídio feminino em um desfile, mas do que desfilarem as detentas exibem sonhos e desejos que os muros não consegue controlar. Particularmente acho que os assuntos tratados no espetáculo não são para rir, mas de uma forma madura cenas “desumanas” se transformam em momentos “humanizados” e o resultado é conferido nas risadas do público.
Um “novato” chega ao presídio e logo se depara com as regras de convivência criadas e mantidas nas dependências da prisão. Privados da liberdade, os detentos entram num estado psíquico oscilante: momentos de alegria, num estalar de dedos se transformam em momentos de fúria e desespero.
As cartas trazem para os presos as novidades de fora dos portões, mas trazem para a reflexão o analfabetismo dos presos. É através da carta que o espectador conhece a rotina de troca praticada pelos presos. A carta pode também trazer a notícia do nascimento do filho, notícia que alimenta o desejo de deixar as grades rumo a desejada “lili”.
As “revistas” são esperadas a qualquer momento e funcionam como um termômetro que mede e regula a tensão provocada pelo confinamento e pela pasmaceira própria de um espaço de privação do ir e vir.
No espetáculo o presídio é um espaço costurado pela fúria, pela paranóia, pela “tramação” e por um profundo desejo de liberdade. É um cotidiano cortado por explosões de alegria, profunda tristeza e conflitos.
Toda esta rotina é narrada na obra de forma engraçado, mas com doses exatas de reflexão. Resumindo: em fragmentos assuntos da vida cotidiana de dentro e de fora dos muros são encenados pelos atores e atrizes: Diogo Vitor, Jaqueline Andrade, Geandra Nobre, Priscilla Monteiro, Rodrigo Souza e Wallace Lino.
Gostei do que vi.
0 comentários:
Postar um comentário