17 de junho de 2013

As pessoas precisam ser informadas se gostariam de sair do lugar ou não

Foto: Renan Otto - Ensaio fotográfico "Tem Morador", realizado no Morro da Providência. O ensaio fotógrafo foi realizado por fotógrafos formados na Escola de Fotógrafos Populares.  "Tem Morador" é um projeto coletivo de documentação, que tem como objetivo registrar as lutas de resistência e o cotidiano das comunidades ameaçadas de remoção.
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Opinião



O Cotidiano: Na atualidade na cidade do Rio de Janeiro temos um quadro dramático       em relação às remoções de moradores de favelas. Temos notícias de remoções em varias regiões da cidade: Providência, Vila Autódromo, Pavão-Pavãozinho, Manguinhos e Santa Marta. O que você acha a respeito deste assunto?


Léo Lima*



Muito complicada esta situação, não pela remoção de casas em si, mas pela falta de respeito e de diálogo entre as partes, no caso o governo e as pessoas. Em nenhuma dessas localidades, ditas, informais pelo poder público, elas são informadas sobre o projeto, se são, só ficam sabendo quando a bomba explode! Não existe um projeto onde pense o desenvolvimento dos cidadãos, só do que o estado entende por cidade desenvolvida, pautada no capital financeiro visando interesses singulares somente a seus empresários e empreiteiras, como já bem disseram muitos especialistas da questão, como Raquel Rolnick e Marcelo Freixo.

Todos sabem que o país vive um problema histórico de moradia. As pessoas estão sem casas para morar, mesmo sendo um direito humano. E ainda sim, são expulsas de seus lares, haja vista, as ocupações urbanas na cidade do Rio de Janeiro, com a “Flor do Asfalto e Quilombo das Guerreiras”, localizadas na zona portuária da cidade.

Se as pessoas se estabeleceram nas favelas ou prédios abandonados, mesmo sendo locais informais, é porque ter uma casa acabou se tornando um privilégio, ao invés de um direito. Por esse óbvio motivo é que essa não pode ser a justificativa para a remoção desses espaços, ainda mais porque o governo historicamente vende uma ideia de desenvolvimento territorial que não existe, se esse mesmo desenvolvimento não valoriza sua cultura local, arte e política comunitária e o bem estar social de seus moradores.

Em minha opinião, as pessoas precisariam ser informadas se gostariam de sair do lugar ou não, antes de qualquer ação ou projeto pronto. Sua casa deveria ser quitada, de maneira legal, ou antes, dela se mudar, a casa nova já deveria estar pronta e não muito longe do lugar onde se estabeleceu, mas principalmente que sua cultura local fosse valorizada e não encurralada para que diante das mudanças, a pessoa não se sentisse pertencente do espaço popular e ter que sair, seja pela especulação imobiliária, pela desvalorização dos indivíduos ou as demais arbitrariedades do atual governo, que insiste em trazer a tona fragmentos da “falecida” ditadura militar.


* Léo Lima é fotógrafo da Agência fotográfica Imagens do Povo e registra as remoções em varias favelas do Rio de Janeiro.

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