23 de julho de 2009

Para além dos números

O risco de um adolescente brasileiro morrer é 33 vezes maior que o de uma criança. Se esse adolescente for negro, a probabilidade será 2,6 vezes maior quando comparado com os brancos. Dos adolescentes que morrem todo ano no país, 46% são assassinados.


Os números acima são do Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que foi lançado ontem em Brasília e que resulta de uma parceria entre o governo federal, Unicef, o Laboratório de Análise da Violência da Uerj (LAV-Uerj) e o Observatório de Favelas. O IHA é inédito e foi desenvolvido no âmbito do Programa de Redução da Violência Letal Contra Adolescentes e Jovens, iniciativa que o Observatório coordena desde 2007.


A violência letal constitui um dos maiores problemas sociais brasileiros e nos grandes centros urbanos, ela se associa a um quadro que envolve a precarização das condições de vida, especialmente dos moradores de favelas e periferias. A gravidade desta situação acabou por tornar este problema uma das principais preocupações do Observatório de Favelas, que começou a desenvolver ações nessa área a partir do projeto Rotas de Fuga. O Rotas acompanhou a trajetória de 230 meninos e meninas envolvidos no tráfico de drogas, em 34 comunidades do município do Rio de Janeiro. Desse total, 45 jovens foram mortos no período da pesquisa. Tais mortes trouxeram a necessidade de pensar um projeto focado no problema dos homicídios de adolescentes.


Nesse contexto, em agosto de 2007, nasceu o Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens (PRVL), que, apoiado pelo Unicef, trabalhou com nove capitais brasileiras. Em outubro de 2008, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, através da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SEDH/SPDCA), tornou-se parceira do PRVL. A partir de então, o Programa estendeu sua atuação e passou a contemplar 11 regiões metropolitanas.


O intuito do Programa é assegurar que os homicídios de adolescentes sejam tratados como prioridade na agenda pública e o IHA foi desenvolvido nessa perspectiva. Ele foi criado com o objetivo de exemplificar o impacto da violência letal entre adolescentes de uma forma sintética, de modo a ajudar na sensibilização da sociedade para a gravidade do problema. O índice pretende também contribuir para o monitoramento do fenômeno e para subsidiar políticas públicas nessa área.


Os dados do IHA, além de inéditos, são alarmantes, sobretudo quando interpretados de forma longitudinal. Nesse caso, é possível estimar que o número de adolescentes assassinados entre 2006 e 2012 ultrapasse 33 mil. Ou seja, se as condições existentes nas cidades pesquisadas persistirem, o país perderá 13 adolescentes por dia.


O que se espera é que os números, mais do que um dado assustador, venham a se tornar uma ferramenta no enfrentamento dessa situação. O índice, apesar de inédito, não é o único estudo que trata do tema e não é o primeiro a alertar para sua gravidade. No entanto, o que merece destaque é o conjunto das iniciativas que o cercam.


A Secretaria Especial de Direitos Humanos, o Unicef, o LAV e o Observatório de Favelas, além de chamar atenção para o problema, estão buscando articular iniciativas que possam contribuir para a redução dos homicídios de adolescentes e jovens. Talvez essa seja a novidade que deva ser destacada. Por isso, ainda que em um primeiro momento a preocupação seja divulgar o IHA, apresentando dados alarmantes, não há dúvida de que seu principal fim é a mobilização. Mais do que a criação de estatísticas, a intenção, ao dar visibilidade às vidas que hoje são perdidas, é sensibilizar a sociedade para construção de um futuro diferente.

Acesse o Índice de Homicídios na Adolescência

Fonte Observatório de Favelas

Rocinha em números

A Rocinha, favela carioca conhecida internacionalmente, acaba de passar por um grande raio-x. O censo, realizado na maior favela da América Latina e divulgado hoje, 16 de julho, contabilizou 38.029 imóveis e 100.818 habitantes (51,5% mulheres e 48,5% homens) – número muito superior aos 56 mil moradores da última contagem do IBGE, realizada em 2000. De acordo com a Secretaria de Estado da Casa Civil, responsável pelo levantamento, os resultados vão orientar o governo do Estado a direcionar investimentos de R$ 25 milhões em ações e programas de melhoria para a Rocinha.


Os principais problemas apontados pelos moradores sobre suas próprias casas, de acordo com o censo, foram pouca iluminação (41,9%) e pouca ventilação natural (41,8%), pouco espaço (48,3%) e paredes ou chão úmidos (20,6%). E, quando perguntados sobre “o que falta para que a sua moradia seja melhor?”, as principais respostas foram ampliação da casa (10,4%), reforma (7,5%) e saneamento básico (6,6%). No entanto, o estudo revela que 86% dos domicílios estão oficialmente ligados à rede geral de esgoto.


No que se refere à potencialidade econômica da comunidade, há na Rocinha 6.508 empresas ou empreendedores, dos quais apenas 8,1% são formais (pagam impostos). O principal ramo de atividade é o de serviços (79,7%), seguido de longe pelo comércio (18,5%). E os empreendimentos não-familiares são maioria (46,1%) em relação aos familiares (31%).


Um dado positivo é que o índice de emprego é alto entre os moradores da comunidade. Só 7,7% dos entrevistados se declararam desempregados. Os trabalhadores com carteira assinada são 30,8%, os sem carteira somam 13,8% e os aposentados e pensionistas são 4,3%. Os que se declaram estudantes totalizam 23,5%.


Acesse o Censo Domiciliar da Rocinha


Acesse o Censo Empresarial da Rocinha


Fonte Observatório de Favelas


20 de julho de 2009

Artesanatos produzidos por alunos do projeto Vida Real, Maré, Rio de Jaeiro.