4 de fevereiro de 2010

Carnaval na Maré


O bairro Maré tem por volta de 150 mil habitantes distribuídos em 16 comunidades em um território de quase 5 quilômetros quadrados e com uma vida rica culturalmente, mas nem sempre o bairro é retratado pela sua diversidade e alegria. O mote para as reportagens é sempre a que envereda pela ótica negativa, principalmente pela a violência, mas as abordagens a cerca do assunto não aborda de fato as raízes da questão, na verdade acaba por colocar o morador da favela como sendo o “problema”.

Um dos problemas que atinge a comunidade da Maré é o serio problema de transito entre as 16 comunidades, principalmente pelos jovens que são os mais atingidos diretamente com a atuação dos grupos criminosos. Neste contexto diverso e complexo nasce o bloco Se Benze que Dá. Um bloco que surge com o intuito de estimular a circulação dos moradores pela comunidade e pela cidade.

Na tentativa de fomentar e contribuir para uma discussão e reflexão sobre direitos o bloco realiza desfiles pela comunidade da Maré desde 2005. Além dos desfiles pela comunidade o bloco também participa de manifestações coletivas.

Na tentativa de juntar diversão e consciência o bloco realiza dois desfiles pelas ruas da Maré, um sábado antes e um depois do carnaval.

O primeiro desfile de 2010 será no próximo sábado. Concentração as 13 e 30 no lago do Quarto Centenário, na Baixa do Sapateiro.

Desfiles em Imagens

 
A fotografia acima do fotógrafo Ratão Diniz é do primeiro defile do bloco em 2005.

 
O registro acima é do fotógrafo Bira Carvalho, mostra o bloco chegando a comunidade da Nova Holanda.

 
Em 2007 o registro ficou por conta do fotógrafo Davi Marcos. Bloco em uma das ruas da comunidade da Baixa do Sapateiro.



Foto de 2008 também é do fotógrafo Davi Marcos, rua do morro do Timbau.
  


2009 foto de Fabio Caffé, Quarto Centenario, Morro do Timbau.
 

2009 bloco passando pela rua Oliveira, Baixa do Sapateiro.


Confira abaixo os sambas do Bloco

CARNAVAL 2010

A Rua é a Nossa Avenida
Autoria: Sinésio Jefferson, Dayana Lima

 Jornais só dizem que somos carentes
amor não nos falta, temos pra dar
recuso o papel de indigente
e no carnaval vou me esbaldar

A rua é nossa avenida
deixe (veja) o meu bloco passar
hoje a favela está unida
vem, Se Benze que Dá!


CARNAVAL 2010
Minha Sina
Autoria: Leo J. Melo, Diego Lucena, Mariluci Nascimento, Juliana Farias e Grande Elenco!


Num jardim de arrudas
Travo a luta com ardor
A Maré tá cheia
Vem pra rua, morador!!


E a saúde... Dá-lhe upa, Lula lá
Tu vai no SUS e toma um SUSto de matar
Se tu não morre, Cabral vai te exterminar

É Copa, é Pan, é Pac, é tudo de uma vez
Eu quero ver é em 2016!!
Pular o muro ‘vira’ esporte de uma vez
(ô morador!)
            Ô morador: espalha pra geral!
'sabádo' antes e depois do carnaval
(o Bloco sai!)
'sabádo' antes e depois do carnaval

E o pancadão... já não pode proibir
Funk é cultura, eles vão ter que engolir
É rico, é pobre, todo mundo quer provar
É samba, é funk é o Se Benze que Dá! (2x)
(Sobreviver!)

sobreviver
deve ser a minha sina
choque de ordem
fome e gripe suína
choque de ordem
fome e gripe suína




Sambas dos anos anteriores









1 de fevereiro de 2010

A cidade do Rio e seus muros

Em tese os sistemas sociais modernos desenvolveram mecanismos que dispensa o recurso arcaico de murar. Em compensação ergueu muralhas que separam, não mais os bárbaros dos cidadãos, como relata a história a respeito da função dos muros das cidades medievais. O medo que o rico tem do pobre é a principal evidencia da terrível muralha que protege o rico e segrega o pobre.

Murar o espaço público está na moda na cidade do Rio, não qualquer espaço, evidente, as áreas escolhidas são as áreas das favelas e não por acaso, se nos ocuparmos em observar as práticas da cidade em relação aos espaços favelados, veremos que o pensamento é totalmente coerente com a lógica vigente de que a cidade tem um problema e esse “problema” é a favela.

Pior do que a caduca ideia de murar, só os argumentos dos governos na defesa dos projetos. A intenção de murar as favelas não é nenhuma novidade, já foi proposta de outros governos, mas não foi realizada, em parte por falta de apoio da população, mas um fato novo é acrescido, antes o projeto não tinha a seu favor as boas intenções como capa de apresentação.

Com a pretensa intenção de proteger a mata atlântica do fenômeno favela é erguido muros de quase três metros de altura nas cercanias de favelas da zona sul da cidade. O projeto é de esfera estadual, mas pelo visto as boas intenções também circulam na esfera municipal. No final de 2009 o governo municipal anunciou a construção de muros em vias públicas da cidade, muros chamados de barreiras de contensão sonora que tem por função proteger os moradores das favelas da poluição sonora das vias. Ora, se mergulharmos nos arquivos da história dessa cidade não encontraremos nenhum rascunho que comprove a sensibilidade, conjunta dos governos, com os problemas das favelas e não é de se estranhar tamanha atenção com o problema da poluição sonora das vias nas proximidades das favelas.

Os atuais governos, estadual e municipal, encontraram a forma ideal para implementar o velho projeto de murar as favelas. É bem verdade que o projeto ganhou nova roupagem e parece ter duas etapas. A primeira transita no campo das boas intenções, e a segunda, essa de nível operacional é dividida em duas etapas, a principio, a primeira nada tem haver com a segunda, mas se juntarmos as peças é simples: primeiro cerca a favela por cima para proteger a mata atlântica da favela e por baixo cerca as vias para proteger a favela da poluição sonora.

Murar as vias públicas não resolve qualquer problema existente na cidade, se quer resolve a paranóia coletiva de que a favela é um “perigo”. A favela da Maré fica entre três vias: Linha Amarela, Linha Vermelha e Avenida Brasil, mas apenas pequenos trechos das construções são próximo dessas vias. Ou seja, a construção de um muro ou barreira de contenção sonora nestas vias com base em tal argumento não tem o menor sentido. 

A vivência de um cotidiano brutalmente atingido pelo chorume expelido pelas forças de poderes que deságuam nas favelas é o suficiente para concluir que a boa “intenção” que norteiam o projeto é no mínimo demagógica. O projeto que se traveste de bem intencionado é na verdade a concretização do anseio de um grupo que dissemina a ideia de que a favela é uma grande “ameaça”. Em resumo, na ótica desse pensamento a favela é um terrível “problema” para cidade e precisa ser controlada/contida a qualquer custo.